segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Mind the gap

O rosto que se esconde por trás do jornal de ontem eu não sei de quem é e tão pouco me interessa. A música no meu fone abafa o choro da criança ao fundo. O que me incomoda não é o choro, mas sim os berros nada maternais daquela mãe despreparada. Aquele judeu amarrotado não parece rico. Aquela loira oxigenada segura uma bolsa Luis Vuitton, falsificada, para não parecer pobre. O idoso parece satisfeito com o assento que lhe é de direito; finalmente a vida lhe dera alguma coisa. O negro que parece marginal está ao lado do negro com fundo de garrafa que abraça 3 livros. Esse negro parece ter medo de pensarem que é como o primeiro. O primeiro parece esperar que um branco olhe para ele, ultimamente é o suficiente para ser chamado racista.
Vou em pé balançando a perna. Não me olho no espelho desde que escovei os dentes pela manhã. Pareço com algo que sou eu mesma. Meio cansada, meio esfomeada, meio independente. Eu inteira.

O metrô para. Desço aqui.
Liberdade

sábado, 13 de setembro de 2008

Sem Nome

"O mundo parece que se esqueceu das atrocidades do governo chinês contra o seu povo. Este vídeo feito por jornalistas ingleses retrata a política de natalidade chinesa, em que milhares de crianças são abandonadas ou mesmo assassinadas pelo regime comunista. O povo chinês não vale mais do que o gado. Enquanto isso, o ocidente se deslumbra com as Olímpiadas. . ."

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Quarta qualquer

Acordei tão cedo pra quem foi dormir tão tarde. Na extensa calçada, parei em frente a banca para ler um anúncio irrisório, quando um velhinho qualquer esbarrou em mim e achou aquilo suficientemente irrelevante para não se dar ao trabalho de se desculpar. Senti um calafrio na espinha e lembrei que "os canalhas também envelhecem", ou sei lá, talvez ele só não estivesse em um bom dia. Pena que meu humor é tão mais instável pela manhã. Assim que ligo meu Ipod..." I would give you everything I own..." Esboço um sorriso e penso que isso é a cara do meu pai. Ainda bem que meu humor é tão instável. A partir daí já estou feliz e faço o caminho de casa para a faculdade me sentindo dona da rua e ignorando todos aqueles cocozinhos de cachorrinhos de madame pelo caminho. Na primeira aula é impossível não sentir interesse, na segunda é impossível não sentir sono. Penso na louça me esperando em casa para ser lavada e me pergunto pela quinquagésima vez porque ainda não contratei uma diarista. Lembro que é porque QUERO economizar, e isso me lembra que QUERO trabalhar, mas que eu também não QUERO tanto assim, porque se eu realmente QUISESSE já tinha ido atrás. Combino várias coisas com as amigas, mas não dou certeza de nada, mas sempre que posso a peço. Gosto da liberdade de decidir na última hora e da comodidade de poder me preparar antes. Ué, e quem não gosta? Voltando pra casa, abro a cortina e deito desconfortavelmente no sofá, que a essa altura já está mais para cama. O silêncio daqui tem barulho de carro e crianças esperando pais na calçada. Olho pelo listrado das grades da janela e as nuvens se movem tão rápido. Aquela efemeridade me inspira e sinto que preciso me libertar.

Perdôo o velhinho qualquer e caio no sono.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Desconstrução

A falha no teu caráter não se concerta com cimento
Um fundamento errado compromete toda a estrutura de
qualquer argumento

E você me repete isso
mas como posso compreender
se quer que eu faça o que diz
quando nem você mesmo quer fazer

Seus olhos miram a TV
com tal concentração
enquanto eu preparo a argamassa
pra tua falha, em vão

Porque você se contenta com essa
débil construção
que se limita a ser tão horizontal,
tão grudada ao chão...
Já eu quero sentir a vertigem
de olhar de cima e além
Dos circos de concreto armado
prefiro ficar aquém

Enfim, digo-lhe que estou enfadada
desse encargo sem prazo para terminar
Então deixe-me subir sozinha minha escada
já que você nunca vai querer me acompanhar

...

Ludmila Pinto


terça-feira, 5 de agosto de 2008

Quanto falta

Quantas vezes você precisa olhar
para de fato ver?
Quantas tomadas você ainda vai botar
seu dedo para aprender
de novo e de novo e de novo a mesma velha lição?

Quantos banhos você carece tomar
para deixar a culpa escorrer
pelo ralo?

Quantas memórias são necessárias
para não se esquecer?
E para não lembrar,
quantos copos beber?
E para superar,
quantos mais amores viver?

Quantos anos hão de passar,
para você se convencer
que há muito tempo já não há espaço
para o seu bem-dito querer?
E que de tanto bem só faz mal,
então diz-me:
Quanto falta?


Desculpe-me,
mas já nem sinto falta.



Ludmila Pinto


sexta-feira, 25 de julho de 2008

Des-a-Fiando

É no desconforto que me aninho

Encosto em seu peito ossudo e seu pequeno orgão muscular
bombeia pensamentos caóticos e tão poéticos direto no meu ouvido

E ele me desafia a desfiar
o emanharado de nós-nos-fios do meu juízo que acabou de atormentar;

Observa o limite da minha sanidade
e me fia mais nós nos fios para mais uma vez me desafiar;

É meu tapete-de-Penélope, mas ao contrário dela não estou a esperar
nenhuma atitude estóica de nenhum Ulisses...

É no desconforto que me aninho

Já que é no meio desse embaraçado tear
Que encontro quem e como sou,
e em que não quero me tornar...

Se quer saber quem sou, desculpe,
mas não vou lhe mostrar

Se quer realmente saber quem sou,
me empreste seus ouvidos e
apenas ouça

meu pequeno orgão muscular.

Ludmila Pinto

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Sala de embarque

Seis horas para gastar, por que não pedir um chá? Com leite por favor.
O engraçado é que se minha garganta não estivesse doendo tanto eu nunca tomaria esse chá...odeio chá para falar verdade (ha ha ha)
Depois de 3 horas na internet já não tenho mais nada o que fazer e minha cabeça até dói um pouco. Ainda chego a encarar a tela do laptop por uns 10 min, como se ele fosse me mostrar do nada uma fonte de entretenimento que fosse me distrair pelas próximas 3 horas. Em vão, óbvio.
Mesmo sem dinheiro, resolvo dar uma passada na livraria e lembro pela nona vez que fui realmente burra em não ter levado um livro. E me irrito ao descobrir que o baralhinho super fofo das Princesas Disney é 29 reais. Seria um presente legal pra minha prima. Ou não.
A livraria tem uns quatro metros quadrados e minha cabeça anuncia de vez que está realmente com dor, o suficiente pra eu voltar a me sentar.
"Bosta de dor de cabeça! E fome! Mas essa garganta de merda não me deixa comer nada...e a vaca do cházinho ainda esqueceu de registrar que o meu era com leite, sabia que eu tinha um bom motivo para não tomar chá. Sem falar no baralhinho de 29 reais...eu hein...E a agente de viagens que marcou essa conexão MA-RA-VI-LHO-SA de 6 horinhas...****"

Moral da história:
Nunca viaje de avião com dor de dente. Nunca.

Não gostou?
Imagine eu

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Olá...

Como vai seu senso de amor?

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Segunda, quarta e domingo

Hoje é segunda. O pastel de nata do supermercado tem gosto de domingo. O pé gelado balança para lá e para cá a espera do verão. Para ele o inverno chegou mais cedo, e já fazem algumas primaveras que espera o tal calor.
A comida tem gosto mas não tem graça. Um prato cheio numa mesa vazia. Daqui meu umbigo parece menor. Comprei creme para olheiras mas não adiantou, quem dera houvesse creme para minha insônia.
Pessoas espelho d'água me cansam. De longe até enganam, mas me aproximo e vejo que só há superfície. São bagas fáceis de serem mascadas. Ou melhor, chicletes. Passam meu tempo e, em pouco tempo, acabam-se o gosto e a graça. E também há aquelas cabeçudas, que me cansam mais ainda. Quanto conteúdo, quanta erudição, quanta modéstia. De que lhes adiantam o cérebro se não sabem usar seus sentimentos? Seus corpinhos tímidos, com ombros meio caídos e voltados para si... Que tédio. Surpreendam-me. Contem-me algo que aprenderam errando, e não em livros. Quero desafios e não aulas.
Não procuro, espero.
Espero mascando chicletes nas aulas e, uma vez ou outra encontro alguém especial. Que não me cansa, que não me entedia. Alguém que sabe o que é ser. Que sabe ser. E que dispensa qualquer definição a mais.

E bem...hoje é quarta e não há tempo para saborear o gosto de domingo. Mas segunda já está chegando...

sexta-feira, 28 de março de 2008

Avião

Não... nem essa nem aquela...
Quero apenas uma canção qualquer,
que não me desperte nada de bom nem ruim

Uma canção qualquer...
Sem cheiro, nem cor
Sem peso, nem tristeza
Sem estribilho, nem refrão,nem bordão
Sem eu, tu,
nem eles...
Sem dedilhados,
nem solos,
nem compostos...
Ou opostos,
Ou sinônimos.
Ou heterónimos,
Ou nomes...

Quero apenas uma canção qualquer,
uma canção de nada...
Um eco mudo...

Silêncio.


Ludmila Pinto

sábado, 26 de janeiro de 2008

"olha lá..."

Tenho um amigo que sempre me dizia que eu idealizo muito as coisas, e que a vida não é esse musical romântico da Broadway que eu penso. Eu respondia, sentindo até um pouco de compaixão por ele, que a vida é assim sim, e até melhor.
Ano passado veio pra botar essa minha "filosofia" de vida a prova. E eu falhei.

Aprendi muitas coisas em 2007, uma delas foi aceitar mudanças e como lidar com elas. Outra, e não menos importante: ser flexível. Eu já havia lido que flexibilidade não significa fraqueza, mas só recentemente pude enteder. Hummmm...

No entanto, apesar de me permitir mudanças, impor-me-ei contra essa. Quero meus sonhos de volta e vou tê-los. Já não serão os mesmos, eu sei. Serão novos, mas nem por isso, serão, de forma alguma, inferiores aos antigos.

Perdas nos maltratam, mas através delas passamos a captar "coisas" que antes eram imperceptíveis a nossas mentes.
Algumas pessoas se enterram junto com aquele sentimento ou aquela pessoa que foi embora.
Acho isso triste.
Porque geralmente o lado mais fraco de cada um, é também o mais humano e bonito. São nossas fraquezas que nos tornam fortes. Entende? É a vontade de superá-las que nos dá fôlego e garra para continuar.

Procuro sempre e cada vez mais absorver coisas positivas das minhas experiências. Não tenho medo de viver. Não tenho medo de ser fraca de vez em quando. Já percebeu que só expomos, voluntariamente, nossas fraquezas para pessoas que amamos?

De certa forma elas nos tornam especiais.




Quote

Charlotte:
I just don't know what I'm supposed to be.
Bob: You'll figure that out. The more you know who you are, and what you want, the less you let things upset you.

sábado, 12 de janeiro de 2008

A solidão em perspectiva



"É exactamente porque não há solidão que dizes que há solidão. Imagina que eras o único homem no universo. Imagina que nascias de uma árvore, ou antes, porque eu quero pôr a hipótese de que não há árvores, nem astros, nem nada com que te confrontes: supõe que o universo é só o vazio e que tu nascias no meio desse vazio, sem nada para te confrontares. Como dizeres «eu estou sozinho»? Para pensares em «eu» e em «sozinho» tinhas de pensar em «tu» e em «companhia». Só há solidão «porque» vivemos com os outros…"

Vergílio Ferreira, em ‘Estrela Polar’.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Feliz idade

Parabéns para você, Papinto!
Todo dia eu tento não esquecer de lhe dizer: "te amo".
Te amo!
Amor desinteressado, amor verdadeiro, amor eterno...