terça-feira, 19 de agosto de 2008

Desconstrução

A falha no teu caráter não se concerta com cimento
Um fundamento errado compromete toda a estrutura de
qualquer argumento

E você me repete isso
mas como posso compreender
se quer que eu faça o que diz
quando nem você mesmo quer fazer

Seus olhos miram a TV
com tal concentração
enquanto eu preparo a argamassa
pra tua falha, em vão

Porque você se contenta com essa
débil construção
que se limita a ser tão horizontal,
tão grudada ao chão...
Já eu quero sentir a vertigem
de olhar de cima e além
Dos circos de concreto armado
prefiro ficar aquém

Enfim, digo-lhe que estou enfadada
desse encargo sem prazo para terminar
Então deixe-me subir sozinha minha escada
já que você nunca vai querer me acompanhar

...

Ludmila Pinto


terça-feira, 5 de agosto de 2008

Quanto falta

Quantas vezes você precisa olhar
para de fato ver?
Quantas tomadas você ainda vai botar
seu dedo para aprender
de novo e de novo e de novo a mesma velha lição?

Quantos banhos você carece tomar
para deixar a culpa escorrer
pelo ralo?

Quantas memórias são necessárias
para não se esquecer?
E para não lembrar,
quantos copos beber?
E para superar,
quantos mais amores viver?

Quantos anos hão de passar,
para você se convencer
que há muito tempo já não há espaço
para o seu bem-dito querer?
E que de tanto bem só faz mal,
então diz-me:
Quanto falta?


Desculpe-me,
mas já nem sinto falta.



Ludmila Pinto