segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Mind the gap

O rosto que se esconde por trás do jornal de ontem eu não sei de quem é e tão pouco me interessa. A música no meu fone abafa o choro da criança ao fundo. O que me incomoda não é o choro, mas sim os berros nada maternais daquela mãe despreparada. Aquele judeu amarrotado não parece rico. Aquela loira oxigenada segura uma bolsa Luis Vuitton, falsificada, para não parecer pobre. O idoso parece satisfeito com o assento que lhe é de direito; finalmente a vida lhe dera alguma coisa. O negro que parece marginal está ao lado do negro com fundo de garrafa que abraça 3 livros. Esse negro parece ter medo de pensarem que é como o primeiro. O primeiro parece esperar que um branco olhe para ele, ultimamente é o suficiente para ser chamado racista.
Vou em pé balançando a perna. Não me olho no espelho desde que escovei os dentes pela manhã. Pareço com algo que sou eu mesma. Meio cansada, meio esfomeada, meio independente. Eu inteira.

O metrô para. Desço aqui.
Liberdade

2 comentários:

Letícia Aguiar disse...

Novos textos. Que bom. Gosto de te ler. Bjs.

Anónimo disse...

eu vi tudo, :)